
… partilhar, quero eu dizer!
Desde que o Miguel nasceu, adoptamos um hábito que eu sempre achei estranhíssimo entre pessoas que têm filhos. Falamos através do Miguel, diz à Mamã isto, ou então, tas a ver Miguel, o Papá fez asneira. Pior ainda, damos voz ao ser de 4 meses e tentamos falar por ele, o preocupante é que conseguimos descer a um nível de infantilidade que se ele pudesse mesmo falar, talvez nos mandasse ganhar juízo.
A hora do dia, ou melhor, da noite, em que voltamos a ser adultos juntos é quando nos deitamos… cuidado com o pensamento, seus marotos… voltamos a ser adultos e tentamos, quando ainda temos 5 min de bateria, falar sobre a vida e o futuro. Sim, é verdade, sou eu que começo e geralmente a queixar-me de alguma coisa, não nego! E uma noite destas, a conversa extrapolou o habitual, foram momentos de crise existencial, o que fomos, o que somos e aquilo que queremos vir a ser. Chegamos á conclusão que, talvez isto de emigrar não seja para nós! Pronto, tá dito!
Isto é giro, é limpinho, toda a gente é muito educada, o ordenado não é mau, a casa é engraçada, mas, há muitos mas. Podia escrever 50 parágrafos do que nos está a fazer ponderar regressar, mas posso resumi-lo em, Solidão, Saudade e falta de Sol. Eu sei que sol e companhia não compram botas de 150€ e muito mais grave, não põem comida na mesa, tenho consciência disso.
Criamos a balança e começamos a ponderar prós e contras, recordamos as expectativas que nos conduziram até aqui, chegamos á conclusão que nem tudo ficou por concretizar, mas o principal objectivo ficou muito aquém, e que era na altura, a valorização profissional de ambos. Isto de emigrar em tempos de crise mundial tem os seus inconvenientes.
Depois de uns meses de cá estarmos, começamos a ouvir os mesmos palavrões que se ouvem em Portugal, a crise, as insolvências, o layoff. Nunca estivemos preocupados, porque graças aos alemães, os sindicatos aqui funcionam e os direitos dos trabalhadores são mesmo, mas mesmo defendidos. E mais, dois dos principais critérios que mais pesam na altura de não-despedir, são a idade e a família, e neste aspecto, a matemática está a nosso favor em relação a outras pessoas. Mas nem tudo se resume à matemática e as coisas podem mudar a qualquer momento e esse momento pode ser já segunda-feira.
Fogo, Filipa, tanto paleio, para dizer que queres voltar, isso nós já sabemos, não falas aqui de outra coisa, pensam vocês. Onde eu quero chegar é que esse dia pode estar mais próximo do que se esperava! Para já, o que eu pretendo com isto, que já vai longo, é que digam de vossa justiça:
What would you do in our shoes?
That’s the question!