06 September 2008

Cronologia fragmentada...

Estes últimos tempos em Joane têm sido um pesadelo… se soubessem as vezes em que me arrependo por termos vendido o nosso T1, um ano antes do novo apartamento estar pronto… parecia uma daquelas casas do Portugal dos Pequeninos… era tão catita! Para além disso a compra daquele apartamento foi o meu grito do Ipiranga, a minha liberdade, a minha casa… Claro que só o consegui comprar com as ajudas (€€€) do meu namorado que passou a ser meu marido uns anos mais tarde e das famílias de ambos… Mas foi assim que, depois de estar a trabalhar apenas há dois meses me aventurei a ter uma casa minha que obviamente passou a ser nossa! O Luis mudou-se para Famalicão (um pouco contrariado, penso) mas depressa fizemos daquele T1 o nosso cantinho. Tudo corria bem até decidirmos casar… as nossas famílias suspiraram de alivio, o meu pai principalmente por o Luís ter feito de mim uma mulher honesta… a preparação do casamento foi conturbada, o tempo era pouco e eu andava um pouco para o stressada… a semana do casamento chegou e três dias antes do Big Day o telemóvel tocou… aquela noticia caiu como uma bomba na minha cabeça, se havia um emprego mais que seguro para o futuro casal era o dele, o meu parecia ser o mais periquelitante! Estava eu no dentista, que por acaso é um amigo meu, depois de ter vertido algumas lágrimas ao contar-lhe o que tinha acontecido, continuava boquiaberta, o que facilitou o trabalho dele… naquela cadeira de dentista prometi que até ao grande dia não pensaria no assunto! E assim o fiz, o casamento foi, sem dúvida, um dos dias mais felizes da minha vida, na minha, na da nossa família e na de muitos dos nossos amigos, alguns deles não se viam há anos… e todos partilharam connosco a nossa felicidade…
Eu confesso que era daquelas “trintinhas” que dizia, ah e tal… não faço questão de casar, assinar uns papéis, isso não muda nada! mas lá no fundo, qual é a menina que nunca se imaginou dentro de um vestido de noiva a ser conduzida até ao altar pelo seu pai? Eu até conheço algumas que têm como programa de sábado ir a lojas de vestidos de noiva brincarem ao faz-de-conta…

Veio a lua-de-mel, maravilhosa… mas o bichinho da raiva e do ódio começou a crescer dentro de mim, à medida que os dias iam passando, ficava mais angustiada, fui egoísta, apenas pensei no meu sofrimento, devia ter pensado mais no que o Luís estaria a sentir, mas graças ao seu estado “sempre aparentemente calmo” ele foi o equilíbrio… Se já passou? Não, meus amigos, infelizmente perdoar e esquecer atitudes desumanas é talvez das coisas mais difíceis para mim, talvez um dia, quem sabe, não lhes desejo mal, apenas um pinheiro de natal enfiado no… e de preferência dos grandes!!! Para os que sabem o nome dos tais sabonetes, amigos, apelo aqui ao seu boicote, ouvi dizer que aquilo causa problemas dermatológicos. Bom, pensando melhor, ainda trabalham lá pessoas inocentes e que dependem daquele emprego para sustentar a família, e eu não quero prejudicar ninguém… fica ao vosso critério!

E os dias foram passando, passando e passando e nada mudava, apenas o meu estado piorava, deixei de ver com clareza o dia-a-dia, e as pedras no caminho acumulavam-se, a minha orbita andava contaminada de problemas, meus e dos que fazem parte dela! Outros percalços aconteceram, mas sobre esses, a ferida continua aberta e provocou em mim alguns medos, coisas pelas quais não quero passar outra vez, e por isso tenho adiado planos… Desenvolvi várias fobias, varias formas de mostrar o meu descontentamento com a vida, vinguei-me no meu próprio corpo, até que o meu cérebro me ensinou uma lição, quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga e assim foi… foi preciso a frontalidade de uma amiga que me disse para fazer-me à vida, para deixar de sentir pena de mim, a assim fui erguendo a cabeça! Aprendi uma lição valiosa, é mais fácil ser-se infeliz, a felicidade exige trabalho, esforço e coragem…

Hoje o Luís chegou a casa depois de mim, geralmente é ele que chega primeiro porque sai às 17h30 de Braga, eu só saio às 18h00 e ainda tenho que fazer os 15 Km da viagem Famalicão-Joane. Aquelas viagens eram adiadas até ao último minuto, embora tivéssemos tido sorte em nos emprestarem uma casa para morar, a casa era sombria, sem luz natural. Para variar lanchei qualquer coisa e estendo-me no sofá com o comando. Deus como ando cansada, alguns dos meus colegas de trabalho parece que vieram ao mundo apenas para fazer da minha vida um inferno… ainda dizem que as mulheres são coscuvilheiras, aquelas bestas mais pareciam umas ratazanas de sacristia…. Mais uma vez, talvez um dia perdoe tanta falta de carácter… eles não têm culpa, nasceram assim…

Um ou dois dias por semana era o dia da preguiça e então íamos buscar uma Pizza ou um Frango assado para o jantar, e naquele dia foi frango… estava eu a terminar de devorar a coxa e eis que lhe sai:
"Hoje o E. perguntou-me se eu estaria disposto a ir trabalhar para a Alemanha, passas-me as batatas?"
Pára tudo, o que estas para aí a dizer? Alemanha? Tas a falar a sério? Bom, tira lá esse assunto a limpo, e depois falamos sobre o assunto… agora não me apetece pensar em possibilidades…

Em duas semanas a hipótese foi ganhando consistência, até que o Luís me envia um email com a confirmação de um Bilhete Oporto-Hannover! Foi uma viagem de Charme, tudo pago, uma estadia no melhor hotel da cidade, carro alugado… confesso que a cidade me impressionou logo primeira vista.

Inconscientemente a decisão estava tomada, e os dias que se seguiram foram uma miscelânea de ansiedade e dúvidas. A família e amigos apoiaram a nossa decisão, não havia muito que ponderar, mas saber que em apenas 2 meses teríamos mudar a nossa vida foi um pouco assustador. A decisão de abandonar o meu emprego, ainda assim, foi complicada, lutei muito para ter conseguido pequenas vitórias, mas a decisão estava tomada e lá fui eu, falar com o meu chefe!
Chegou o dia das despedidas, ao fim de 5 anos a fazer das tripas coração num emprego veio o reconhecimento, ainda hoje lembro os elogios do “Patrâo”, lavaram-me a alma… Nunca serão demais os agradecimentos aos que me ajudaram ao longo daquela luta.
Entramos na fase do encaixotar, 32 caixas… duas vidas e 32 caixas era tudo o que tínhamos… a minha obsessão por embalar tudo foi tão grande que a minha aliança não fez o check in comigo, chegou um mês mais tarde com o resto da mudança…

Continua…
Porquê recordar isto? Esta é a minha forma de reconhecer e agradecer a Deus por ter colocado o Luís na minha vida, uma demonstração de amor tosca, mas com a qual me sinto confortável, tenho consciência que não lhe digo as vezes que deveria o quanto ele é importante na minha vida, e que depois dos meus pais, ele é sem duvida a pessoa que mais contribuiu para o que sou hoje, uma emigrante que sente falta do seu pais, da família e amigos, do seu mundinho deixado para trás… mas que aos poucos está a aprender que na vida, apenas as coisas boas devem ficar gravadas na memoria. Materializar isto num texto faz-me sentir mais leve, uma espécie de exorcismo virtual.
Aproveitar a vida, fazer planos, fazer da pessoa que eu adoro um homem feliz é neste momento a minha prioridade!

Aposto que nunca leram um blog com influencias de Tarantino!

6 comments:

guimas said...

e posto isto o que dizer...
...acho que posso resumi-lo em:
AMO-TE!

Liliana said...

As inflências de Tarantino também ficam muito bem em versão blog! (lol)
Sei e entendo aquilo pelo que vocês passaram. Por vezes as pessoas dizem que entendem mas só quem passou por isso sabe o que é não ter controle sobre a nossa vida, ver muitos sonhos e esforço caídos em terra, e ao fim de alguns meses não ver uma luz ao fundo do túnel...
Quando somos jovens crámos sonhos e espectativas para quando "formos grandes". Às vezes nem são muito grandes, apenas ter um bom emprego, casar, ter filhos...e quando algum destes sonhos falta entramos em desiquilíbrio!!! Mas é muito mais fácil esperar por um novo amor e depois pelos filhos do que esperar por um emprego...Este é o mais importante porque sem ele tudo o resto fica comprometido!!!
No entanto, estas pequenas grandes coisas servem para nos fazerem perceber quem e o que é realmente importante...
Gostei do texto, acho que te conseguiste exprimir muito bem e gostei do comment do Luís. :)
Beijinhos

Anonymous said...

Estrunfa,

Em poucas palavras, esta foi declarações de amor mais bonitas que até hoje li!

E já agora gosto desta nova forma de pensar!É tão mais fácil ser-se feliz do que se tentar ser feliz....e o que te dará sempre pica não é a primeira mas a segunda ainda porque tens tanta coisa boa no meio de tanta coisa má e há muitos que nem isso tem!!!!

Joka grande, P.

Unknown said...

Mentia se não dissesse que me comovi ao ler as tuas palavras Filipa... não por pena ou qualquer outro sentimento de tristeza mas por sentir que o Luís é um homem cheio de sorte! Ainda bem que tenho o privilegio de o testemunhar.


Tschüss,
Vasco

PS: Espero nunca me comover a ver um filme do Tarantino... das duas tres... ou ele deixou de saber o que é fazer um filme ou entao eu estou com um problema grave! :-)
Já agora uma sugestão... eu substituía o pinheiro por um cato... daqueles frondosos... a floresta é demasiado importante para ser desperdiçada com certas pessoas!

Anonymous said...

Fiquei comovido com o texto. Estou com o Vasco na história do cacto...
É por estas e por outras que estão sempre no nosso pensamento.
Miguel

karu said...

:)